terça-feira, 5 de julho de 2011

Eu nasci na vida contrária, e o inverno ainda era frio. Eu não tinha o que doer quando alguém chegava perto. Felicidade sempre chegava no final. A vida desfez as nossas crianças. Eu me afogo nas lembranças de sorriso ideal, dei um nó de gravata no meu destino e quanto mais eu puxo, mais sufocado eu fico; eu ainda espero pelo meu tempo. Fecho os olhos na esperança que tudo vire sonho, mas a realidade é tão amarga. Todo mundo se engana nessa vida de amor inexistente. A pureza deixou de existir antes mesmo de viver. O passado que te anula não te serve de nada, sua vida deveria ser baseada em futuros. Sejam eles reais ou surreais. O mundo em que nasci perdeu a graça depois que outros nasceram. E isso não é nem um pouco egoísta.
Adriano C.


Eu nasci na vida contrária, e o inverno ainda era frio. Eu não tinha o que doer quando alguém chegava perto. Felicidade sempre chegava no final. A vida desfez as nossas crianças. Eu me afogo nas lembranças de sorriso ideal, dei um nó de gravata no meu destino e quanto mais eu puxo, mais sufocado eu fico; eu ainda espero pelo meu tempo. Fecho os olhos na esperança que tudo vire sonho, mas a realidade é tão amarga. Todo mundo se engana nessa vida de amor inexistente. A pureza deixou de existir antes mesmo de viver. O passado que te anula não te serve de nada, sua vida deveria ser baseada em futuros. Sejam eles reais ou surreais. O mundo em que nasci perdeu a graça depois que outros nasceram. E isso não é nem um pouco egoísta.

Patrícia Havenny'
“Não vai a lugar nenhum, eu estou preso em um escuro sem grades. É um infinito muito escuro e desgastante. E foi o amor quem me presenteou.”É dessa prisão feita de amor desgastado, maléfico e inebriante que brota o silêncio. O vazio, o escuro de noite sem lua, de verso sem letra, música sem ritmo, paixão sem corpo. Tudo muito perdido a dois passos, entregue a um destino sonhador em que a esperança dá seus últimos pedidos em vida. Um testamento triste, triste, detalhes de uma vida corrida, de um tempo tempestuoso onde nada consegue ser livre, onde a voz se prende à garganta, onde os pássaros caem antes de alçar vôo. Amor falecido, amor maltratado, amor renascido - dá no mesmo. Tem a ver com calos e trabalho pesado para se manter sobrevivente, à base de água e sal, desilusão, desencontros, descaminhos e um resto de paz trazida pelo imenso vazio. Foi disso que brotou o meu silêncio. Eu fiquei pendurado num relógio e o ponteiro não tem forças para subir. Sem ajuda, sem força, eu tento voltar, e sentir, expor, escrever e viver, voar cada pedaço das linhas antigas. Mas acabou. A vela queimou. O dia caiu. A porta fechou. Como é que se faz pra ser o que eu fui? E se o que eu fui nunca gostou de mim? Como é que dá pra buscar novos mundos se estou entre correntes, encubado, escondido, meio quieto, meio fumaça, meio baque, meio morto? O raio não vem. O galo não canta. O vento não empurra as cortinas. Quem há de dizer que os motivos existem? Quem há de dizer que não fui corajoso a ponto de suportar o desapego, a enfermidade e o escudo pesado e partido? Se eu me perdi no tempo, acho que tudo q eu plantei, secou. E a vida me deixou. Assim como tudo que escrevi e senti.— Suspira, pois ela volta aos poucos. Mesmo que engatinhando e tropeçando.— Entendo.Eu cheguei a pensar que, da mesma forma como desencontrei, eu encontraria o que eu havia perdido. Numa calçada ou nos olhos de alguém, no sorriso da criança ou na cheiro da chuva, mas nada voltou. Nem mesmo a voz doce que incendiava minha alma. Sonhar virou sonho. Soa estranho, eu sei. Mas é a cara que imagino quando penso na realidade. Fogem os encantos e as magias. Perdem-se as bebidas deliciosas, os personagens confidentes e as estradas surpreendentes. O rosto do concreto. Eu só queria ser volátil, escapar de tudo aquilo que me impede de inflar, descobrir outros vapores, fugir da minha casa, abrir a gaveta, destampar as panelas. Sentir o cheiro de coisa velha e perceber que o novo ainda me espera pra poder chegar. Eu deixei recados nos espelhos e correspondências fechadas, deixei motivos pra voltar. E caminhando, torto e desguiado, no ritmo do sem-querer-eu-tenho-medo, eu sinto que a vida é assim: cheia das incertezas e dos silêncios no escuro. Muito minha, muito nossa e muito própria.
Adriano C. e Zaluzejos

 “Não vai a lugar nenhum, eu estou preso em um escuro sem grades. É um infinito muito escuro e desgastante. E foi o amor quem me presenteou.”

É dessa prisão feita de amor desgastado, maléfico e inebriante que brota o silêncio. O vazio, o escuro de noite sem lua, de verso sem letra, música sem ritmo, paixão sem corpo. Tudo muito perdido a dois passos, entregue a um destino sonhador em que a esperança dá seus últimos pedidos em vida. Um testamento triste, triste, detalhes de uma vida corrida, de um tempo tempestuoso onde nada consegue ser livre, onde a voz se prende à garganta, onde os pássaros caem antes de alçar vôo. Amor falecido, amor maltratado, amor renascido - dá no mesmo. Tem a ver com calos e trabalho pesado para se manter sobrevivente, à base de água e sal, desilusão, desencontros, descaminhos e um resto de paz trazida pelo imenso vazio. Foi disso que brotou o meu silêncio. Eu fiquei pendurado num relógio e o ponteiro não tem forças para subir. Sem ajuda, sem força, eu tento voltar, e sentir, expor, escrever e viver, voar cada pedaço das linhas antigas. Mas acabou. A vela queimou. O dia caiu. A porta fechou. Como é que se faz pra ser o que eu fui? E se o que eu fui nunca gostou de mim? Como é que dá pra buscar novos mundos se estou entre correntes, encubado, escondido, meio quieto, meio fumaça, meio baque, meio morto? O raio não vem. O galo não canta. O vento não empurra as cortinas. Quem há de dizer que os motivos existem? Quem há de dizer que não fui corajoso a ponto de suportar o desapego, a enfermidade e o escudo pesado e partido? Se eu me perdi no tempo, acho que tudo q eu plantei, secou. E a vida me deixou. Assim como tudo que escrevi e senti.
— Suspira, pois ela volta aos poucos. Mesmo que engatinhando e tropeçando.
— Entendo.
Eu cheguei a pensar que, da mesma forma como desencontrei, eu encontraria o que eu havia perdido. Numa calçada ou nos olhos de alguém, no sorriso da criança ou na cheiro da chuva, mas nada voltou. Nem mesmo a voz doce que incendiava minha alma. Sonhar virou sonho. Soa estranho, eu sei. Mas é a cara que imagino quando penso na realidade. Fogem os encantos e as magias. Perdem-se as bebidas deliciosas, os personagens confidentes e as estradas surpreendentes. O rosto do concreto. Eu só queria ser volátil, escapar de tudo aquilo que me impede de inflar, descobrir outros vapores, fugir da minha casa, abrir a gaveta, destampar as panelas. Sentir o cheiro de coisa velha e perceber que o novo ainda me espera pra poder chegar. Eu deixei recados nos espelhos e correspondências fechadas, deixei motivos pra voltar. E caminhando, torto e desguiado, no ritmo do sem-querer-eu-tenho-medo, eu sinto que a vida é assim: cheia das incertezas e dos silêncios no escuro. Muito minha, muito nossa e muito própria.

Patrícia  Havenny'
Solidão de Ser Três.

Se eu contar, ninguém acredita. Nem eles. Uma camisa xadrez em frente à televisão pensava no passado e nas lembranças que nunca haviam deixado seu quarto. A pequena solitária olhando pela janela do sétimo andar as luzes do prédio ao lado que, timidamente, formavam um “S” de saudade. E o maior porquê da tristeza em massa estava não muito longe, em um bar falido de mesas tortas e enferrujadas, como sua vida. O velho, a moça e o beija-flor. O amor mais mal vestido da rua de baixo. A felicidade faz as malas mais depressa quando vê no horizonte o desamor, e ela bem sabia disso. Tinha de três o que só precisava de um, doses absurdas de conforto e prazer. A camisa xadrez pouco sabia do que se passava em si, mas encontrava sua vida facilmente nos outros, fingia aquela eternidade que só existe na arte, mas deixava tudo de lado por um sorriso ao anoitecer. O mal do amor de hoje é guardar as coisas em um canto calmo, privar do caos quem te salva da dor, querer esquecer as noites onde a misericórdia do Senhor é tão inalcançável. O mal do amor é se entregar ao primeiro beija-flor que te pede por favor. Ao encontro de um olhar cansado a lua se escondeu ao ver a traição de corações perdidos e desguiados, e espera a resposta do mais forte sentimento sublime e perverso. As ligações desviadas na madrugada e as infinitas vezes em que ela dormiu no sofá esperando a campainha mostram que não basta o amor, mas tem que saber amar. Escrever no vento é puro descontento. E depois do desencanto, quando todos se perderam, quando a morte levou o sorriso, quando o céu ficou cinza; depois de terem desfeito a alegria de três vidas por um motivo beija-flor qualquer; enterram todas as mágoas naquilo que podem. Uma camisa xadrez em frente a um videogame esquecido na caixa, a pequena solitária na sacada de um andar primo e um desguiado não-sóbrio, fazendo desfeita da vida, desatando os nós que deveriam ser fotografados na eternidade de alguns anos. E a paixão que ia e vinha, cansou. Agora vivem nessa solidão de pinguim viúvo, sem ter o apego de amar novamente. O triângulo que, mesmo unido, estava na solidão de três corações perdidos no tempo. Um amor ou dois, três desconhecidos e algumas lágrimas caídas. E na solidão de ser três, ninguém percebeu o lado negro do amor.

Adriano C.

     Solidão de Ser Três.

Se eu contar, ninguém acredita. Nem eles. Uma camisa xadrez em frente à televisão pensava no passado e nas lembranças que nunca haviam deixado seu quarto. A pequena solitária olhando pela janela do sétimo andar as luzes do prédio ao lado que, timidamente, formavam um “S” de saudade. E o maior porquê da tristeza em massa estava não muito longe, em um bar falido de mesas tortas e enferrujadas, como sua vida. O velho, a moça e o beija-flor. O amor mais mal vestido da rua de baixo. A felicidade faz as malas mais depressa quando vê no horizonte o desamor, e ela bem sabia disso. Tinha de três o que só precisava de um, doses absurdas de conforto e prazer. A camisa xadrez pouco sabia do que se passava em si, mas encontrava sua vida facilmente nos outros, fingia aquela eternidade que só existe na arte, mas deixava tudo de lado por um sorriso ao anoitecer. O mal do amor de hoje é guardar as coisas em um canto calmo, privar do caos quem te salva da dor, querer esquecer as noites onde a misericórdia do Senhor é tão inalcançável. O mal do amor é se entregar ao primeiro beija-flor que te pede por favor. Ao encontro de um olhar cansado a lua se escondeu ao ver a traição de corações perdidos e desguiados, e espera a resposta do mais forte sentimento sublime e perverso. As ligações desviadas na madrugada e as infinitas vezes em que ela dormiu no sofá esperando a campainha mostram que não basta o amor, mas tem que saber amar. Escrever no vento é puro descontento. E depois do desencanto, quando todos se perderam, quando a morte levou o sorriso, quando o céu ficou cinza; depois de terem desfeito a alegria de três vidas por um motivo beija-flor qualquer; enterram todas as mágoas naquilo que podem. Uma camisa xadrez em frente a um videogame esquecido na caixa, a pequena solitária na sacada de um andar primo e um desguiado não-sóbrio, fazendo desfeita da vida, desatando os nós que deveriam ser fotografados na eternidade de alguns anos. E a paixão que ia e vinha, cansou. Agora vivem nessa solidão de pinguim viúvo, sem ter o apego de amar novamente. O triângulo que, mesmo unido, estava na solidão de três corações perdidos no tempo. Um amor ou dois, três desconhecidos e algumas lágrimas caídas. E na solidão de ser três, ninguém percebeu o lado negro do amor.

Patrícia Havenny'
Amor, Estranho Amor.

Há dias que tenho pensado na vida. Pensado em meses, em bancos e livros,  em uma camisa verde que parecia vestido. E em um doce sorriso que eu  nunca mais pude ver. A vida tem dessas coisas escondidas, desses  arrependimentos quietos. E tem amor. Eu já tentei te encontrar nesses  números antigos que ninguém sabe de onde vem, em altos edifícios que não  servem café na cama ao amanhecer e em todas as bocas cheirando fruta  doce com brilho de estrela. O tempo fez com que eu perdesse qualquer  esperança da vida antiga e nem a televisão mostra mais o amor que eu via  com você. Perdão pelas inúmeras vezes em que atrapalhei o ciclo do seu  sorriso. Ninguém espera o fim. A verdade é que as pessoas gostam de  ficar presas no passado, mesmo que doa, mesmo que ele afogue. Eu vivo na sombra de uma foto  antiga, onde “my heart stops without you”. Nossa despedida foi fria como  café em horário de almoço, foi triste como desperceber o pé no abismo e  se jogar em um caso de amantes suicidas. Eu sinto sua falta, assim, de  um jeito bem irrefletido. Desinformado como vendedor de jornal, morri  sufocado na notícia da semana passada: Eu realmente te perdi. Essa carta  é outra que nunca vai chegar à sua mão, ela sempre é destruída pela  chuva ou levada pelo vento, ainda em forma de pensamento. Ando como um  mendigo arrependido, na dor do pássaro caído, com coração desritmado por  medo de interferir na sua felicidade. Eu te quero bem. Seria melhor  aqui. Mas te quero bem assim, longe, também. Até um tempo atrás eu te  diria bem como é ser café frio, como é ser lembrança de dor. Eu  acostumei com as ausências. O tempo acaba com a gente, você vai me  entender. Eu troquei de rua, de roupa, de rancor, mas não deixei esse  olhar baixo. Minha vida anda cheia, e eu não tenho interesse pra  absolutamente nada. Falta pouco menos de um mês para o dia em que o sol  parece mais antigo e eu finjo notar estrelas mais apagadas. Eu sinto um  frio maior quando coloco o casaco. Já passou meio ano com jeito de três  séculos, e eu nunca saí daquela fileira de livros em que te encontrei.  Eu pesei tanto durante esse tempo, aquele nosso “sei lá” nunca teve  significado claro pra mim. E mesmo assim eu te “sei lá” durante todo  esse tempo. Você me doeu. Eu subi todos os andares da tristeza, sozinho.  Eu escondi seu nome dentro de uma gaveta cheia de papéis velhos, coisas  velhas, lembranças e amores, quem sabe assim eu poderia dizer: Passado.  E mesmo assim eu te senti nos sonhos mais escuros e em todas as  vírgulas da minha vida. Eu te soltei no vento quando eu deveria ter te  abraçado. Hoje eu não volto, nem amanhã, apesar do egoísmo. Pois não me  permitiria tirar outro sorriso teu, por isso vivo nesse silêncio  apertado. Mas saiba, que de segunda-feira a dezembro, meu coração cuidou  bem desse amor. Queria que soubesse mesmo assim, sem saber, que eu  espero a sua volta. Lá no nosso banco de sempre.

Adriano C.

                                               
  Amor, Estranho Amor.

Há dias que tenho pensado na vida. Pensado em meses, em bancos e livros, em uma camisa verde que parecia vestido. E em um doce sorriso que eu nunca mais pude ver. A vida tem dessas coisas escondidas, desses arrependimentos quietos. E tem amor. Eu já tentei te encontrar nesses números antigos que ninguém sabe de onde vem, em altos edifícios que não servem café na cama ao amanhecer e em todas as bocas cheirando fruta doce com brilho de estrela. O tempo fez com que eu perdesse qualquer esperança da vida antiga e nem a televisão mostra mais o amor que eu via com você. Perdão pelas inúmeras vezes em que atrapalhei o ciclo do seu sorriso. Ninguém espera o fim. A verdade é que as pessoas gostam de ficar presas no passado, mesmo que doa, mesmo que ele afogue. Eu vivo na sombra de uma foto antiga, onde “my heart stops without you”. Nossa despedida foi fria como café em horário de almoço, foi triste como desperceber o pé no abismo e se jogar em um caso de amantes suicidas. Eu sinto sua falta, assim, de um jeito bem irrefletido. Desinformado como vendedor de jornal, morri sufocado na notícia da semana passada: Eu realmente te perdi. Essa carta é outra que nunca vai chegar à sua mão, ela sempre é destruída pela chuva ou levada pelo vento, ainda em forma de pensamento. Ando como um mendigo arrependido, na dor do pássaro caído, com coração desritmado por medo de interferir na sua felicidade. Eu te quero bem. Seria melhor aqui. Mas te quero bem assim, longe, também. Até um tempo atrás eu te diria bem como é ser café frio, como é ser lembrança de dor. Eu acostumei com as ausências. O tempo acaba com a gente, você vai me entender. Eu troquei de rua, de roupa, de rancor, mas não deixei esse olhar baixo. Minha vida anda cheia, e eu não tenho interesse pra absolutamente nada. Falta pouco menos de um mês para o dia em que o sol parece mais antigo e eu finjo notar estrelas mais apagadas. Eu sinto um frio maior quando coloco o casaco. Já passou meio ano com jeito de três séculos, e eu nunca saí daquela fileira de livros em que te encontrei. Eu pesei tanto durante esse tempo, aquele nosso “sei lá” nunca teve significado claro pra mim. E mesmo assim eu te “sei lá” durante todo esse tempo. Você me doeu. Eu subi todos os andares da tristeza, sozinho. Eu escondi seu nome dentro de uma gaveta cheia de papéis velhos, coisas velhas, lembranças e amores, quem sabe assim eu poderia dizer: Passado. E mesmo assim eu te senti nos sonhos mais escuros e em todas as vírgulas da minha vida. Eu te soltei no vento quando eu deveria ter te abraçado. Hoje eu não volto, nem amanhã, apesar do egoísmo. Pois não me permitiria tirar outro sorriso teu, por isso vivo nesse silêncio apertado. Mas saiba, que de segunda-feira a dezembro, meu coração cuidou bem desse amor. Queria que soubesse mesmo assim, sem saber, que eu espero a sua volta. Lá no nosso banco de sempre.

Patrícia Havenny '